sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Conversas com Woody Allen


Duas pessoas que eu amo e admiro muito me fizeram amar e admirar uma terceira pessoa: Woody Allen. Não posso ser considerada cinéfila porque, apesar de adorar ver filmes de [quase] todo tipo, não vi muitos dos grandes clássicos, não vejo um filme por semana e desconheço muita coisa considerada "essencial" no mundo dos filmes. Mas sempre ouvi falar muito do Woody. Desde 2004 vejo os últimos filmes dele no cinema, e, apesar de ter gostado muito, não tinha mega me apaixonado por nenhum. Vicky Cristina Barcelona foi o filme que me fez olhar pra ele de outro jeito [também, fui ver três vezes em uma semana!]. Depois disso vi também Desconstruindo Harry e Annie Hall. Gamei. Ontem fui na Travessa passear e achei esse livro, Conversas com Woody Allen [descrição roubada do G1 abaixo]. Comprei. Pra mim, é um incentivo pra conhece-lo melhor e ver mais filmes seus. E também pra tentar acompanhar esses dois meninos que eu adoro muito e que sempre falaram tão bem do Woody pra mim =)


'Sou apenas um piadista da Broadway que teve muita sorte', diz Woody Allen

Livro do jornalista Eric Lax reúne 36 anos de entrevistas com o diretor. 
Novo filme de Allen, 'Vicky Cristina Barcelona', estréia nesta sexta (14).

Há mais de três décadas, o jornalista Eric Lax recebeu a incumbência de escrever um perfil de um comediante novato de Nova York. Era Woody Allen. Ali começava uma relação duradoura, que rendeu sucessivas entrevistas com o diretor americano ao longo de 36 anos.

 "Nunca tive domínio técnico suficiente ou profundidade de idéias para fazer ninguém pensar. Sou apenas um piadista da Broadway que teve muita sorte", diz o cineasta em um dos momentos mais marcantes das entrevistas concedidas a Lax, reunidas no livro "Conversas com Woody Allen: seus filmes, o cinema e a filmagem", que chega às livrarias esta semana.

 

 Com mais de 500 páginas, o livro traz declarações de Woody sobre os temas mais diversos, incluindo seu método de trabalho, suas musas e suas influências.

 

G1 adianta a seguir trechos das entrevistas que estão no livro, separados por tema.

  

A CARREIRA

Eric Lax - Faça uma avaliação de sua carreira até hoje. 
Woody Allen - 
 Minha sensação objetiva é que não atingi nada significativo artisticamente. Não digo isso com tristeza, apenas descrevo o que sinto como verdade. Sinto que não dei nenhuma real contribuição ao cinema. Em comparação com contemporâneos como o Scorsese, o Coppola ou o Spielberg, realmente não influenciei ninguém de forma significativa. Quer dizer, muitos dos meus contemporâneos influenciaram jovens diretores. O Stanley Kubrick é um exemplo primordial. Eu não sou nenhum tipo de influência. Por isso é que sempre me pareceu estranho que prestassem tanta atenção em mim ao longo dos anos. Nunca tive um grande público, nunca fiz muito dinheiro, nunca tratei de temas controvertidos nem prestei atenção nenhuma na moda. Os meus filmes não estimularam a opinião do país em temas sociais, políticos ou intelectuais. São filmes modestos, feitos com orçamentos modestos, que produzem lucros extremamente modestos e não abalam de forma alguma o mundo do show business. Não tem jovens diretores correndo para me imitar e fazer filmes do jeito que eu faço. Nunca tive domínio técnico suficiente ou suficiente profundidade de idéias para fazer ninguém pensar. Sou apenas um piadista de Brooklyn/Broadway que teve muita sorte. E eu não sou uma pessoa modesta demais. Quando sou bom, sei apreciar a mim mesmo. Não sou triste, nem confessadamente masoquista a esse respeito, mas sou inteligente o bastante para saber que explorei ao máximo meus dotes limitados, ganhei um bom dinheiro em comparação com o meu pai e, o mais importante, de longe preservei minha saúde. Quando eu era menino, sempre corria para o cinema em busca de um escape - às vezes doze ou catorze filmes por semana. E, adulto, consegui viver a minha vida de forma um tanto autocomplacente. Consigo fazer os filmes que quero, e então, durante um ano, posso viver naquele mundo irreal de mulheres bonitas e homens interessantes, situações dramáticas, figurinos, cenários e realidade manipulada. Sem falar em toda a maravilhosa música e em todos os lugares aonde me levou. [Ri] Ah, e às vezes eu consigo sair com uma das atrizes. O que poderia ser melhor? Escapei para uma vida no cinema do outro lado da câmera, mais que para o lado da platéia. É irônico eu fazer filmes escapistas, mas não é o público que escapa - sou eu. (2005/2006)

  

MUSAS

Lax - Existe uma velha máxima de que o diretor precisa se apaixonar pela atriz através da câmera para que o público também se apaixone. Você concorda? 
Allen -
 Eu me empenho muito em determinados filmes para ter certeza que estou apresentando a atriz para o público do jeito que imaginei. Me dediquei muito à Christina Ricci em "Igual a tudo na vida". Fiz a mesma coisa com a Scarlett em "Match point". Refiz três vezes a cena em que a Scarlett encontra o Jonathan Rhys Meyers na mesa de pingue-pongue. É o primeiro momento em que o público a vê, e a tomada determina de imediato a beleza e a perigosa sexualidade dela, que são centrais na história. Mudei o cabelo dela, mudei a roupa, mudei o jeito de filmar, eu e o câmera conversamos a respeito. Mas para mim era muito importante apresentar a visão dela do jeito como eu sentia aquela personagem. Então eu me empenho muito nisso, sim. Claro que às vezes não é preciso, mas outras vezes é importante para o filme que um dos personagens crie impacto. Às vezes, a eficiência da personagem feminina não precisa ser tão dominante, mas, nesses dois filmes, entre outros, a atriz principal precisava ser muito eficaz desde o início. Era preciso mostrar por que o Jason Biggs ficava tão obcecado pela Christina e tão ligado a ela, e agüentava as aventuras dela, e convivia com aquela mãe maluca e suportava ser enganado o tempo todo. Achei que a Christina tinha uma espécie traço sexy, bonita, impositiva, que conseguiria fazer com que um sujeito se amarrasse nela. E a mesma coisa com a Scarlett. Mas em Scoop ela faz uma "seminerd". Não me empenhei nem um pouco em fazer com que ela ficasse sexy. Só tive o cuidado de fazer com que parecesse uma garota de faculdade potencialmente atraente. (2005)

  

ESCREVER

Lax - Tem uma idéia clara do personagem para o qual você escreve? 
Allen -
 Não existe nenhuma moldagem consciente do meu personagem. Eu nunca penso: Bom, ele não faria isto. Em boates e filmes, faço o que acho engraçado, e é cem por cento instintivo. Eu simplesmente sei que não daria um tiro num sujeito e colocaria dentro de um freezer. Eu só faço o que faço, e ao que parece o personagem vem à tona. O que fica além disso não significa nada para mim. Só quero ser engraçado. E se além de ser engraçado der para externar uma opinião, ótimo. Não faço nenhum juízo interior do personagem que vai saindo. Só posso descrever esse personagem em termos do que conheço: contemporâneo, neurótico, mais orientado para a vida intelectual, perdedor, homenzinho, não lida bem com máquinas, deslocado no mundo - essa coisa toda. Consigo enxergar uma certa parte, mas no começo nunca pensei: Vou fazer de mim mesmo um perdedor e um homenzinho. Não acho que se possa tentar fazer qualquer coisa. Faz-se, e pronto.

 

 

"Conversas com Woody Allen: seus filmes, o cinema e a filmagem"

Editora Cosac Naify

512 páginas

R$ 65,00

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